Quando se pensa em relacionamentos, torna-se muito comum e fácil, ouvir frases de auto ajuda pela Internet. Basta abrirmos uma mídia e temos sábios conselhos, desde filósofos famosos até outros, nem tanto. Não estou desmerecendo muitas verdades, às vezes, inquestionáveis, que são postadas. Mas, tenho a intenção de provocar uma reflexão, nos corações dispostos, sobre a utilidade destas “verdades” para cada um.
– Isto serve para mim?
Esta é uma pergunta, que deveria ser feita, sempre que se ouve um conselho ou se lê um texto de auto ajuda. Pois, ninguém, repito: “ninguém”, sabe o que se passa em nosso interior. “Ninguém sabe o que sentimos, por mais que tentemos explicar. – “Ninguém” saberá definir o que levamos por dentro de nosso coração. – Inclusive nós, temos ainda, muita dificuldade em distinguir o que é da mente, daquilo que sentimos.
Vou dar um exemplo:
– Maria aprendeu que não deve fazer as tarefas de casa para o marido, como lavar suas roupas ou fazer sua comida. Pois, isso é tarefa comum do casal. – Por este motivo, dedica-se exclusivamente ao seu trabalho profissional. … Porém, ao chegar em casa, reclama da bagunça e que a louça (no dia do marido cuidar da cozinha), nunca está lavada ou a cama feita.
A “verdade” aprendida pela mente, virou sua crença. Ela a persegue, a ponto de condicionar a sua felicidade a este aspecto; o de ser feliz no casamento, quando o marido cumpre suas tarefas. Chegou a montar um calendário para distribuir os dias e as tarefas do lar para cada um, de modo inflexível.
No entanto, seu coração SENTE diferente. Como chega em casa mais cedo que o companheiro, a vontade é arrumar tudo, por que gosta da casa arrumada e limpa. Mas, não arruma, por que a “cabeça” acha que se fizer a tarefa do marido, ele ficará na folga e abusará da sua boa vontade, além de pensar que vai virar “capacho” dele.
Conclusão: ela vive infeliz, em conflito com a contradição daquilo que diz sua mente com o que sente em seu coração. Continua contrariada em viver na bagunça e em meio as brigas no dia-a-dia. Já está pensando em separação, mesmo se dizendo apaixonada pelo marido.
A suposta verdade aprendida em palestras de auto ajuda, que trazem alertas “genéricos”, ou seja, trazem apenas ideias, para muitas pessoas juntas pensarem se aquele conceito lhe serve ou não, e em quais momentos. Mas, não quer dizer que todas as dicas, servirão sempre para toda situação. Ou para seu modo de viver, pensar ou sentir. Cada dia pode ser de um modo…
O conflito se instala quando a mente vai na contramão do coração. Quando sentimos outra coisa do que pensamos. Enquanto para a esposa, a arrumação da casa e a divisão das tarefas pode ser prioridade, para o marido é só uma circunstância, sem importância.
Não estou defendendo o marido, apenas alerto para a necessidade de análise de cada situação, de cada momento real, com o que acreditamos e o peso que deve ser dado ao que sentimos e ao que pensamos. O que te guia nas escolhas? – É o que você pensa ou o que sente? – Você consegue diferenciar o sentimento do pensamento? O que você prioriza em sua vida; o pensar ou o sentir?
Continuando nosso caso, sob a ótica do marido: “ Não, ele não se considera um folgado e não gosta de bagunça e nem teve a intenção de desrespeitar a divisão de tarefas. Apenas, naqueles dias, teve uma sobrecarga de trabalho, saiu de casa mais cedo e voltou mais tarde e não conseguiu cumprir o prometido. Também, não se importou em chegar em casa e encontrar a louça suja e a cama desfeita. Ao deitar, deu uma ajeitada e tudo estava bem para ele, a não ser pelo mal humor da esposa, que o incomodou.
Ela é a chata, exigente e cobradora? Ou, ele é o irresponsável por que desrespeitou as regras e é um folgado? – Nem um, nem outro. – São posições que tem que ser revistas, pelos dois personagens, analisando cada situação real, a periodicidade que acontece, o grau de exigência de cada um, a adaptação e flexibilidade que é aplicada a cada caso.
As pessoas envolvidas em um conflito de relacionamento, podem procurar um modo de se entenderem e criarem acordos flexíveis, passíveis de serem adaptados a realidade de cada dia ou situação, buscando resolverem as questões de funcionalidade prática que envolvem a dinâmica de todo lar, ou das empresas.
Não há acordo que funcionará, se um dos lados esperar que as regras nunca sejam descumpridas. Deve-se ter maturidade para compreender, que nas infinitas nuances dos acontecimentos diários podem haver muitos imprevistos. Nas infinitas possibilidades das relações, é impossível tentar controlar ou prever todas as variáveis.
Tentar achar uma receita de bolo para controlar todas as possibilidades, só irá desgastar as relações e frustrar aqueles que tem este grau de pretensão de cobrir todas as variáveis para que nada saia do planejado. É muita ilusão ou pretensão, crer nesta possibilidade que só desgasta.
A mulher queixa-se de que o companheiro não gosta de discutir a relação.
Discutir relação é uma iniciativa válida. No entanto, avaliar uma situação específica, tem se mostrado mais eficaz. É por isso, que as empresas tem reuniões semanais, para reavaliação dos acontecimentos da semana. Reunião para avaliar progressos, verificar falhas, alterar procedimentos e abordagens para cada caso, e “ouvirem” uns aos outros.
No entanto, é importante ouvir e ouvir e ouvir e aprender a ouvir e sentir o que é importante para o outro também. É preciso que estas conversas sejam constantes e que não sejam cobranças, mas se tenha a intenção e a disposição de flexibilizar crenças arraigadas, para harmonizar as situações.
Porém, na maioria das vezes, as mulheres pedem para discutir a relação para desabafar toda a sua insatisfação acumulada, relativa às atitudes do companheiro, desviando da situação do momento. No fundo, tem a intenção de cobrar e fazer com que suas vontades se cumpram. O que será que pensam obter com isso? – O mesmo, pergunto à muitos chefes e diretores de empresas, que cobram dos funcionários desempenho que não se relacionam ao fracasso de uma venda específica. Mas, generalizam seu descontentamento, sem trazerem uma contribuição para algo específico e real.
Com esta atitude de cobranças, só conseguirão o afastamento e a falsidade do outro, que irá prometer o que não lhe é espontâneo ou o que está acima da sua capacidade e nunca irá cumprir. Quer seja para defender-se, para agradar, ou para terminar com as cobranças.
“Lavar roupa-suja”, nada mais é do que jogar na cara do outro, a sua insatisfação com a própria incompetência em lidar com a situação. Sim, somos muito incompetentes na arte da convivência sadia.
– Como superar? – Quando tolerar? – Quanto aceitar a limitação do outro e as nossas? – O que flexibilizar em cada situação? – O que se está disposto abrir mão e o que não se abre? – São medidas muito pessoais, que serão melhor calibradas se tivermos contato mais sincero com o nosso sentir, do que com o nosso pensar.
Os argumentos da mente e do pensar, sempre estão elaborando possibilidades para vencer e manter-se vivo. Nossa mente se apega às nossas crenças, valores, ao que é mais fácil e ao que aprendemos ao longo da vida. Quando nos conectamos com o melhor dos nossos sentimentos, com o autocuidado, o auto amor, a avaliação das limitações de si e do outro, teremos uma bússola mais realista, para tomarmos decisões menos idealizadas ou ilusórias.
O que aprendemos vem de fora, da família, dos estudos, das frases de auto ajuda, da religião que é o modo do outro se re-ligar. Esta mescla de informações, transforma-se em nossas verdades, que querem prevalecer, ou a pessoa sente que irá morrer e se destruir, caso sua “verdade de cartas” desmorone. Desapegar-se de uma verdade, relativizar sem sentir que é a morte, é um grande passo de desapego, para que haja entendimento e maior aceitação da realidade.
Marcar um horário, em que todos estejam disponíveis para estudarem-se e analisar às situações conflituosas, é um expediente sadio. Manter o foco do assunto e o objetivo de gerenciar um assunto, é essencial. Mas, as reuniões só terão êxito, quando humildemente, conseguirmos sentir o que precisamos mudar em nós, diante aquela situação. Onde recuar, onde avançar, quando nos proteger, desvendando o que vai em nosso coração, aprendendo a interpretar as emoções que vibram em nossa alma e na dos outros, são aprendizados que vamos adquirindo ao longo da vida.
Flexibilizar para readaptar-se e dar o real valor ao que não saiu como esperado é ter um contato saudável com a realidade. São habilidades que necessitam de boa dose de vontade para harmonizar conflitos e superar a teimosia infantil de fazer prevalecer a própria vontade e supostas certezas. É ter a humildade de olhar mais para si, antes de apontar os dedos para os outros e aceitar as limitações de todos nós.
Lavar roupa suja, só resolve quando temos a própria roupa íntima dos pensamentos e sentimentos, lavados. Porém, quem matem a mente sempre limpa e os sentimentos puros?…
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