Egoísmo é pensar só em si ?

“Tirai-lhe, pois, o talento¹ e dai-o ao que tem os dez talentos; porque a todo o que tem,              dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem ser-lhe-á tirado… 

 (Mt 25:14-30)

 

 

Egoísmo é esconder os “talentos¹” que desenvolvemos pelas eras e vivencias sem fim, dos dons que nos foram concedidos pela Bondade Divina.

”Negamos o poder interior, para caminhar na direção do poder ilusório das conquistas externas²…(Ermance Dufaux)

Não é só por preguiça de sairmos de nossa zona segura e confortável, que deixamos de multiplicar nossos talentos. Há inúmeros sentimentos que nos boicotam e encobrem nosso potencial de seguir em frente. Arrisco dizer, que cada ser humano terá suas desculpas e sentimentos para não seguir em frente no despertar de seus talentos. Mas, as ilusões, distrações, enganos, imprevistos, acidentes, também são impedimentos desta busca.

Demorei muito para perceber que comportamentos de auto boicote, desculpismo, preguiça, vitimismo, acomodação, excesso de zelo, distrações, desvios de rota, cuidados exagerados com o outro (mães), apego às próprias crenças e valores como verdades infalíveis, preconceito às outras opiniões, são apenas disfarces da própria insegurança de colocar-se no mundo com autenticidade, apego a entes queridos com o nome de amor, e muitos outros comportamentos e manipulações, nada mais são do que “egoísmo”.

Escrevo a pedido de uma amiga querida, que me pediu para compartilhar as descobertas do meu próprio comportamento, sobre o Egoísmo nas minhas atitudes,

Egoísmo é pensar só em Si? – O que você acha?

Ou será que egoísmo é pensar só nos outros, abandonando a Si e enterrando “talentos”?

Literalmente, fui “catequizada” durante minhas buscas sobre a compreensão da vida e de mim mesma, a ser cristã, espiritualista, boa mãe e esposa, boa filha, fazer a caridade e o bem. Estas foram as minhas doutrinações constantes, durante a vida, e às adotei como a minha verdade para me conduzir.

Cuidei de filhos, de pais, de centros religiosos, de asilos, de alunos necessitados. Mas, o que fiz dos meus talentos? – Fiz tudo pelo que entendia ser dever Cristão ou “amor”, ou como treino para desenvolver esse amor em mim. Só isso me interessava. E, nesse afã, descubro hoje que fui egoísta!

Confesso! – Fiquei chocada ao perceber que negligenciei meu desenvolvimento pessoal.

Parei e demorei um tempo para analisar em quais das minhas ações havia egoísmo. – Pensei: – Se toda a emoção tem seu lado positivo, o que o Egoísmo quer me mostrar? – Onde houve egoísmo da minha parte?

Descobri que foram nos meus interesses camuflados, que mesmo não intencionais e inconscientes, moviam minhas ações. Como disse Freud: – “Por traz de toda ação há um ganho”.

Penso que na humanidade, não há ainda quem aja sem alguma intenção egoísta. Pode ser nas relações familiares, profissionais, entre amigos, ou no simples cotidiano, sempre haverá algum interesse pessoal, muitas vezes inconsciente ou camuflado.

Agradeço todas as experiências que tive e me trouxeram a este aprendizado. Foi um trabalho duro. Mas, se permitir ser quem se é, aceitando as próprias falhas, não tem preço!

Descobri que pender para o lado de pensar mais nos outros, mesmo que seja com boas ações e intenções, pode ser uma transferência da real ocupação. Ou uma desculpa, para evitar o auto confronto de arregaçar as mangas para ir em frente na auto transformação e multiplicação dos próprios talentos.

Quando damos maior importância às tarefas ilusórias, mesmo que úteis, a verdadeira ação interior que deveríamos desenvolver para multiplicar nossos talentos únicos, fica em segundo plano. Guardamos nossos verdadeiros “ talentos”, distraindo-nos com ações secundárias ou de aparência ilusória, deixando de ser quem gostaríamos.

Por sentimentos inúmeros e camuflados, deixamos de lado, por egoísmo, a multiplicação dos nossos reais talentos. Ainda agimos por impulsos egóicos, infelizmente. Não aprendemos o desprendimento nas ações.

O que eu começo a perceber como solução para diminuir esse quadro enfermiço, é o meio termo, também chamado de “caminho do meio”, pelos budistas; Um caminho em que podemos “Descarregar os tijolos enquanto o caminhão anda”. Este é o ditado popular mineiro, que serve para explicar que mesmo sem estarmos prontos e acabados, podemos ir ajudando ao nosso redor. E o “caminho do meio” nos lembra que enquanto trabalhamos e nos relacionamos, simultaneamente, podemos multiplicar (ou aprimorar) nossos dons e talentos.

Mesmo que nossa profissão seja um dos nossos talentos, e amemos o que fazer, sempre haverá outros talentos para multiplicar e distribuir. A renúncia do que gostamos e fazemos, às vezes, é necessária para apagar incêndios que aparecem durante a caminhada. Estes desvios de rota, também nos obrigam a desenvolver novos talentos, para remediar os imprevistos. A vida é a grande mestra que nos leva a ser nós mesmos, desenvolvendo quem somos.

Mas, enquanto a tempestade dos acidentes de percurso não passa e a normalidade custa a voltar, os tijolos podem ser retirados de nosso caminhãozinho. Assim, chegamos mais próximos de nossa essência e dos verdadeiros talentos, caminhando mais leves.  a fim de expandirmos o bem.

Por outro lado, não ter noção dos limites e se tornar um “workaholic” abandonando obrigações afetivas com a  família, ou ir em busca desenfreada de auto transformação isolando-se como um monge, abandonando obrigações ou relações e pensando só em si, também é egoísmo.

Tanto o pensar só em si, como pensar mais nos outros em detrimento de seu despertar, são formas de egoísmo.

Buscar o autoconhecimento para reconhecer o egoísmo que impulsiona nossas ações, irá devagarzinho nos transformar em seres mais amorosos conosco e com os demais. Amorosidade não se improvisa. Ela é um estado de espírito verdadeiro, livre de egoísmo, que tem relações autênticas, pois, não tem medo de se mostrar como se é.

Sem necessidade de tantas máscaras egóicas, lentamente nos sentimos mais verdadeiros e menos cobradores nas nossas escolhas. Não havendo a necessidade de aparentar nada para os outros, aceleramos o desenvolvimento dos próprios talentos, que se expandirão em atitudes amorosas, naturais e autênticas, ao nosso redor. As expectativas e o controle diminuem e a convivência se torna harmoniosa.

Ao expor sem medo, as feridas da própria fragilidade, por já ter adquirido autoconfiança em quem se é, amplia-se a fé em Si e na sabedoria das Leis da Vida. Adquire-se maior firmeza interior para aceitar-se como se é, com as próprias falhas. E, somente quando há compreensão e aceitação das próprias fragilidades é que passamos a compreender também, as dificuldades e falhas alheias. Passando então, agir com mais amorosidade incondicional e menos egoísta, espontaneamente.

Por enquanto, estou na teoria, vislumbrando um caminho e uma direção que traz calma e paz ao meu coração. Ainda falta percorrer um bom caminho para tirar vários tijolos que ainda pesam no meu caminhãozinho. Mas, saber dar nome de egoísmo ao próprio desamor, foi uma descoberta abençoada que motivou-me seguir em frente!

Agradeço a Bondade Divina que assim permitiu!

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Notas:

¹ “Talento”, na época em que o Evangelho foi escrito, era o nome de uma moeda (o dinheiro da época). Neste texto, pode ser entendido das 2 formas (moeda ou tesouro da habilidade pessoal)

² Ermance Dufaux, pela mediunidade de Wanderley de Oliveira: “Mediunidade: A cura da ferida da fragilidade” (Ed. Dufaux)

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